Com uma população mundial com mais de 6 bilhões de pessoas, parece que não existem lugares desabitados ou com poucos moradores. Mas aqui, bem pertinho dos nossos vizinhos Chile e Argentina, tem um lugar assim, a Patagônia.
Com cerca de 800 mil km² ela ocupa uma área entre os dois países, mas tem uma população de apenas 1,5 habitante por km². É uma região que vai surpreender você e não é só por ser uma das localidades mais despovoadas do mundo, mas por ainda manter uma natureza quase intocada.
Pelo lado da Patagônia Chilena, não espere encontrar apenas guanacos (um parente próximo da lhama), pumas ou águias voando em busca de seu almoço – aliás, observar animais selvagens em seus habitats é uma das atrações mais esperadas, principalmente se você for com seus filhos. Mas a natureza foi benevolente em outros pontos com esse pedaço do mundo, colocando ali, montanhas, fiordes e outras belezas naturais.
Ao visitar a Patagônia e você achar o local desabitado, imagine a região nos idos de 1920. O lugar era mais inóspito ainda. Mas a aristocrata escocesa Florence Dixie largou o conforto de suas terras e partiu rumo à região. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa figura extraordinária.
Quando era pequena Florence Dixie era o que se podia chamar de menina-moleque, isso em pleno século XIX por volta de 1860. Tendo apenas dois irmãos homens, a pequena Florence fazia atividades típicas que os meninos da sua época faziam, como montar, nadar em lagos, caçar. Seu espírito era destemido, dinâmico e suas opiniões já revelava uma personalidade forte.
Depois que se casou com um aristocrata e vendo seu marido perder a fortuna por causa de dívidas com jogos, Florence Dixie resolve levá-lo para longe da Escócia, a fim de afastá-lo da jogatina. Escolheu então, a Patagônia Chilena como destino.
A sociedade aristocrática da época não entendeu a escolha. Mas lá foi o casal, os irmãos de Florence e um guia. Ao pisar na Patagônia, ela foi a primeira europeia a visitar o local e de lá escreveu sua experiência que se transformou em livro o “Ridding Across Patagonia”. Nos relatos, Florence descreve a Patagônia como um lugar hostil, completamente selvagem. Ela ainda detalha alguns dos comportamentos de animais selvagens que observou. Suas histórias foram compartilhadas com Charles Darwin e contribuíram para completar alguns pontos de sua Teoria da Evolução que o cientista já estava elaborando.
Vamos regredir um pouco mais na história da Patagônia.
Quando Fernando de Magalhães, navegador espanhol desembarcou, teve contato com nativos da etnia Tehuelches e ficou espantando. Eles eram muito altos em comparação com a tripulação. Os espanhóis não alcançavam a altura dos ombros dos Tehuelches. Fernando de Magalhães apelidou-os de patagones, pois tinham pés grandes (patones) em relação aos europeus, daí deu origem ao nome Patagônia.
Se você visitar a região hoje, vai poder conhecer o mesmo cenário vivido por Florence Dixie na metade do século XIX, porque pouca coisa mudou na Patagônia Chilena. A sensação que se tem é de estar seguindo os passos da exploradora escocesa com surpresas pipocando a cada trilha. Animais selvagens em seus habitats naturais, lagos de águas frias, geleiras, picos como as Torres Del Paine são marcantes.
Os picos Torres Del Paine estão no Parque Nacional de mesmo nome e é uma área preservada que mantém todos os detalhes de sempre. O Parque foi considerado pela Unesco em 2009, como Reserva da Biosfera Mundial, por sua importante preservação do ambiente natural.
Ao avistar as Torres Del Paine e notar uma diferença de coloração, não se espante. É que ocorreu um fenômeno natural espetacular que deixou tonalidades diferentes nas montanhas, indo do preto ao alaranjado. O fenômeno natural ocorreu da seguinte forma: há 12 milhões de anos, lava vulcânica do núcleo do planeta subiu em direção ao topo, só que não conseguiu transpassar as rochas da camada superior. Elas foram sendo empurradas para cima, que lhes deu esse formato pontiagudo. Todas as camadas geológicas elevaram-se, deixando seus vários tons na montanha.
A Patagônia Chilena é o ponto mais extremo antes de chegar à Antártida e se puder aventure-se em um cruzeiro, você vai ver inúmeras geleiras durante o trajeto. São blocos de gelo que se desprendem e ficam à deriva. Calma, os guias são cuidadosos e experientes e não vai acontecer a mesma coisa que ocorreu com o Titanic, pode ficar tranquila.