“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.”
A frase do monge vietnamita Thich Nhat Hanh se encaixa muito bem quando nos referimos ao Butão, o único país que tem em sua constituição o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), que mede o índice de felicidade de sua população e considera esse resultado como indicativo de desenvolvimento, além dos usuais indicativos econômicos.
Pode ser complexo para nós ocidentais entendermos isso, mas pensando bem, como não ser feliz em um paraíso onírico rodeado de montanhas, rios de águas cristalinas, templos e fortalezas com arquiteturas incríveis, espiritualidade altamente desenvolvida e incorporada na rotina de seus habitantes, um povo extremamente simpático e gentil?
Não é à toa que o Butão foi considerado o último Shangri-lá, o paraíso perdido nas montanhas do Himalaia, no romance do inglês James Hilton. Segundo ele, “O lugar é sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, convivência harmoniosa entre pessoas de diversas procedências […]”.
Se você botar os pés lá, vai ter a nítida noção de que o escritor estava querendo dizer. E é interessante pensar que o cenário encontrado hoje, pode não ser o mesmo daqui a alguns anos. Isso porque a democracia foi introduzida recentemente, em 2008, e aos poucos, novas situações se configuram, como o desejo de estimular o turismo, permitido há tão poucas décadas. Evidentemente que isso pode acarretar pequenas mudanças que façam com que essa atmosfera atual, nunca mais seja vista como está.
Claro que muitas medidas são adotadas, visando a manutenção e preservação de toda a riqueza natural, como por exemplo a permissão apenas de turismo com guia, leis de preservação, mas historicamente, sabemos que esse é um grande desafio.
Localizado na Ásia, em plena Cordilheira do Himalaia, e rodeado por gigantes como a China, Índia e Tailândia, é um destino peculiar. Não deve ser opção dos que preferem desfrutar de extremo conforto e luxo, isso porque para conhecer muitos dos seus pontos turísticos, por exemplo, serão necessárias caminhadas consideráveis, ou um trajeto razoável por estradas acidentadas. O luxo aqui é desfrutar de lugares intocados e conhecer os hábitos de um povo amável, rico em tradições e que sabe viver. É o ser, o estar e não o ter.
Pra os que gostam de passeios ao ar livre e apreciam a oportunidade de imergir em culturas diferentes, abertos para um novo olhar sobre as coisas, é uma viagem que ficará marcada pela vida toda.
Além de sua generosa natureza, com visual cênico composto por montanhas altíssimas com seus picos nevados, vales e despenhadeiros que dividem espaço com construções que são verdadeiras obras de engenharia e equilibram o visual de forma perfeita, há todo o clima de tranquilidade e calmaria que só os butaneses conseguem transmitir.
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O ritmo frenético das grandes cidades passa distante. TV, rádio ou internet? Os butaneses são um povo simples e não dão muita importância a esses recursos. Seus valores são totalmente voltados para o bem estar e equilíbrio que vêm de dentro, independente de influências externas. Preferem levar a vida com mais sossego, cuidando de seus afazeres cotidianos, praticando sua religião e se concentrando em serem plenos.
Valorizam demais a vida, estão sempre com um sorriso no rosto e agradecendo por serem o que são. Não é à toa que o país é considerado o mais feliz do mundo. Estresse? Pressa? Ansiedade? Não são encontrados no Butão. Impensável para nós ocidentais, ainda mais em 2017.
A felicidade encontrada na simplicidade.
A simpatia e a hospitalidade realmente são características marcantes desse povo especial. Todos recebem você com um sorriso e uma reverência que impressiona.
Seus modos simples são encantadores e nos fazem perguntar: como é possível? O Butão não é um país muito rico e mesmo com poucos recursos materiais as pessoas não parecem mostrar que levam uma vida com muitas dificuldades. Existir já é um motivo para alegria.
Observando com mais detalhe, fica claro que o que permite esse clima é um mindset muito diferente do ocidental. O equilíbrio é trazido pela espiritualidade e sua constante prática, e também pela premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deve ser somente o crescimento econômico, deve ser pensado de forma integrada com o desenvolvimento psicológico, o cultural e o espiritual, sempre em harmonia com a Terra.
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Partindo desse pensamento que o índice FIB (Felicidade Interna Bruta) foi estabelecido. Por meio de uma pesquisa feita com a própria população e que resultou nove itens: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, educação, diversidade cultural, boa governança, vitalidade da comunidade, diversidade ecológica e padrões de vida. São pontos que abrangem diversos aspectos da vida das pessoas e das suas relações com o todo e entre si. Por isso, os resultados são tão positivos.
Espiritualidade em cada gesto.
O Butão transpira religiosidade. Há muitos templos dedicados a Buda e um é mais impressionante que o outro. O mais visitado é o Taktshang Goemba ou em tradução livre, Ninho do Tigre. Ele fica à beira de um penhasco nas proximidades da cidade de Paro. Ao vê-lo lá de baixo, é impressionante imaginar como a construção foi erguida exatamente ali.
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Chegando no no alto, a vista é deslumbrante. É possível observar o vale profundo ao seu redor, com suas paredes rochosas cercando todo o percurso. Um cenário espetacular, principalmente quando a névoa cobre parte dele, transformando-o em uma paisagem dos sonhos.
O interior do templo guarda ainda mais riquezas. Sua decoração feita em preciosos detalhes, onde cada pedacinho revela os dons artísticos dos artesãos. É um trabalho que demanda tempo e paciência, virtudes que eles têm de sobra.
Com tamanha devoção ao budismo, é comum ver monges de diversas idades (homens, crianças e adolescentes) com suas vestes vermelhas, compondo o visual das tranquilas ruas das cidades. Para as famílias, é muito importante que desde pequenos, os homens desenvolvam sua espiritualidade como forma de se educar e manter a tradição.
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Festejando a cultura.
A melhor forma de ter uma aula intensiva da cultura do Butão, é participando de seus festivais culturais. Toda província do país promove o seu, em determinadas datas. Um bom exemplo é o Festival Thimphu Tshechu que acontece na capital no mês de outubro. Durante as festividades são apresentadas danças, cantos, músicas típicas e é possível experimentar a culinária local.
A festa é aberta a todos, inclusive aos turistas, que são recebidos com muita reverência e são muito bem tratados. Nessas ocasiões o viajante vai entrar em contato com a mais pura tradição do país e vai perceber a alegria de com que os butaneses celebram a vida. Raro momento para conhecer a fundo a essência desse povo tão especial.
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A impressão que fica é que o universo tem uma maneira muito peculiar de se equilibrar. Em tempos onde o consumo é tão presente, reservou um espaço – espaço esse que parece projetado por um talentoso artista – onde além de parar para contemplar o divino da natureza, é possível interagir com um povo que tem muito a ensinar, sobre presença, sobre o que é realmente importante, sobre felicidade.